quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

#Partiu - Exemplos de Dispersão

Os padrões encontrados atualmente na distribuição das espécies no globo, são influenciadas por fatores abióticos e bióticos. Um fator importante é a dispersão. Ela ajuda a determinar processos de expansão de locais onde algumas espécies são encontradas. Existem muitas formas variadas de dispersão, onde algumas espécies vegetais e animais foram desenvolvendo técnicas para aumentar a efetividade da dispersão em vários anos de evolução.



A dispersão pode ser influenciada pela biologia do indivíduo analisado, por barreiras geográficas e por eventos aleatórios. Muitas vezes, os anos de evolução da espécie, focaram seus caracteres biológicos para otimizar as capacidades de dispersão (por exemplo, frutos que podem ser consumidos por animais e suas sementes serem distribuídas por aves que possuem alta capacidade dispersiva pois podem voar). No entanto, barreiras geográficas muitas vezes impedem que algumas espécies alcancem locais que são favoráveis para sua sobrevivência. Ocasionalmente, alguns eventos aleatórios podem acontecer, como bancos de macrófitas que descem rios, levando consigo diversos invertebrados, protistas e bactérias que podem chegar a novos locais.
Abaixo vão alguns exemplos curiosos de quanto algumas espécies se especializaram para alcançar novos locais.

Besouros carabídeos

Esse primeiro exemplo mostra como as diferenças entre características biológicas podem ser decisivas para aumentar as capacidades de dispersão de diversos seres vivos. Alguns pesquisadores espanhóis estudaram a distancia ocupada por várias espécies de besouros carabídeos da península Ibérica. Eles analisaram vários dados. Mas um deles nos ajudaram a entender o motivo de algumas espécies se dispersarem mais do que outras. Neste estudo, dois tipos de besouros foram comparados.  Besouros de asas longas e besouros de asas curtas. Adivinha qual deles se dispersavam mais? Acertou quem chutou nos besouros de asas longas. Segundo os pesquisadores, o efeito do habitat é importante para explicar tal padrão. Locais que proporcionam habitats mais estabilizados, são mais habitados por animais de asas curtas, pois não precisam se deslocar para locais mais longínquos para encontrar habitats ótimos. Já para os besouros de de asas longas, habitats que sofrem com muitos distúrbios (como fogo ou inundações) são mais habitados por animais que possuem alta capacidade dispersiva, pois conseguem procurar locais mais adequados para sobrevivência, quando a região estiver sofrendo algum tipo de distúrbio.







 Tartarugas gigantes de Galápagos

Quando fala-se de Galápagos, já lembra-se desse conjunto de ilhas mágicas que foi base de estudos para alcançar vários avanços na Biologia. Esse arquipélago possui diversas espécies incomuns e muitas delas endêmicas dali. Um grupo delas são às tartarugas gigantes de Galápagos. Atualmente é encontrada somente uma espécie (Chelonoidis nigra) que é dividida em diversas subespécies. Quando se observa essas tartarugas, a questão dá origem ainda é uma incógnita. Essa dúvida paira até hoje. É sabido de que elas derivam de um ancestral que era originário da América do Sul. Mas como elas atravessaram mais de 1000 Km de oceano, para alcançar esses arquipélagos? Alguns pesquisadores afirmam que elas podem ter sido trazidos por humanos (principalmente piratas, que as usavam como alimento, pois aguentavam grandes períodos sem se alimentar ou ingerir água). Mas atualmente a hipótese mais aceita é a de que elas vieram boiando da América do Sul até Galápagos. Isso mesmo! Mas como? Bom, a hipótese se sustenta que essas espécies apesar do grande tamanho, conseguem boiar muito bem na água. Além disso elas possuem um pescoço longo que facilita a sua respiração sobre a água. Outros dois fatores que podem ter auxiliado elas, foi a alta capacidade em sobreviver longos períodos sem se alimentar ou ingerir água e ainda a corrente marítima de Humboldt, que passa pela costa da América do Sul e no Equador vira-se em direção às ilhas. Com a chegada dos europeus a partir do século XVI, elas sofreram muito com o consumo da sua carne e com a competição com espécies introduzidas pelo homem. Atualmente  existem programas que focam na recolonização dessas tartarugas nas ilhas do arquipélago.
















Algas cosmopolitas

Muitas algas do mesmo gênero ou às vezes da mesma espécie, são encontradas em várias partes do mundo. A pergunta é como essas espécies microscópicas, conseguem se dispersar e alcançar locais tão distintos do globo? Essas criaturas utilizam outros animais para alcançar novos locais.  Aves que vão até locais alagados ou rios (principal habitat de várias algas) para se alimentar, acabam ficando com algas presas em suas penas ou pernas e com isso, quando se deslocam para outros locais elas acabam levando as algas. Quando alcançam novos locais alagados, essas algas começam a se desenvolver e alcançar populações grandes o bastante para perpetuar a espécie naquele local. Com isso o ciclo recomeça, com uma nova ave. Dessa forma tais espécies, mesmo sendo pequeninas, conseguem alcançar diversos pontos do globo.

Aguapés dispersores

Quem já foi pescar conhece o Aguapé (Eichhornia crassipes), ela é uma macrófita flutuante, nativa da América do Sul. Essa planta pode alcançar um grande crescimento e formar grandes bancos. Muitas vezes esses bancos podem se desprender dos locais onde estão estabilizados e seguirem o fluxo de algum curso d’água. Nesse momento ela pode ser um agente dispersor para sua própria espécie e para diversos organismos que estão habitando suas folhas ou raízes. Quando esse banco chega a um novo local, poderá começar a se estabelecer e manter uma população e ainda introduzirá diversas espécies de microrganismos, vertebrados e até invertebrados que chegaram com elas a esse novo local. O vídeo abaixo mostra um pouco disso. Apesar da velocidade da água ser grande, os “caronistas” que conseguirem sobreviver a viagem, poderão se desenvolver num novo local.


Plantas

Talvez esses organismos, são os que mais chamem atenção, quando o assunto é dispersão. Pois, apesar de serem seres sésseis, ainda assim conseguem dispersar sua prole para diversos locais. Existem vários exemplos, algumas plantas, utilizam o vento como as sementes de Cedro (Cedrela fissilis) que possuem um formato de sâmaras e quando são liberados por seus frutos do alto das copas, acabam caindo de forma vagarosa. O mais curioso dessa dispersão é a forma que as sementes “caiem”. O formato da semente e o material leve que ela é formado, dão a combinação perfeita para ela cair “girando” em torno de seu próprio eixo. Esse “giro” faz com que as sementes permaneçam mais tempo no ar e consigam alcançar locais mais distante do que sua origem. Diversas árvores de grande porte possuem essa estratégia de dispersão.
Ainda existem plantas que se dispersam utilizando animais como vetores (zoocoria). Geralmente são plantas com frutos carnosos e que possuem muita polpa. Os animais se alimentam desses frutos e às vezes ingerem as sementes contidas nos frutos. Alguns morcegos se alimentam de árvores como o Figo e vão a outras áreas e lá eles defecam, dispersando as sementes que foram alimentadas. Essa é uma das dispersões mais conhecidas e utilizadas pelas plantas.













Referências: 

Gutiérrez, D; Menéndez, R.; Patterns in the distribution, abundance and body size of carabid beetles (Coleoptera; Caroboidea) in relation to dispersal ability. Journal of Biogeography. 1997. 24. 903-914.

Caccone, A.; Gentile, G.; Gibbs, J.; Fitts, T.; Snell, H.; Betts, J.; Powell, J. Phylogeography and History of Giant Galápagos Tortoises. Evolution. 56 (10): 2052-2066. 2002

Lester, S.; Ruttenberg, B.; Gaines, S.; Kinlan B.; The relationship between dispersal ability and geographic range size. Ecology Letters, 2007 (10): 745-758.

Wilmé, L.; Waeber, P.; Ganzhorn, J.; Human translocation as an alternative hypothesis to explain the presence of giant tortoises on remote islands in the south-western Indian Ocean. Journal of Biogeography. 2017. 44, 1-7.

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