Os padrões encontrados atualmente na distribuição das
espécies no globo, são influenciadas por fatores abióticos e bióticos. Um fator
importante é a dispersão. Ela ajuda a determinar processos de expansão de
locais onde algumas espécies são encontradas. Existem muitas formas variadas de
dispersão, onde algumas espécies vegetais e animais foram desenvolvendo
técnicas para aumentar a efetividade da dispersão em vários anos de evolução.
A dispersão pode ser influenciada pela biologia do indivíduo
analisado, por barreiras geográficas e por eventos aleatórios. Muitas vezes, os
anos de evolução da espécie, focaram seus caracteres biológicos para otimizar
as capacidades de dispersão (por exemplo, frutos que podem ser consumidos por
animais e suas sementes serem distribuídas por aves que
possuem alta capacidade dispersiva pois podem voar). No entanto, barreiras
geográficas muitas vezes impedem que algumas espécies alcancem locais que são
favoráveis para sua sobrevivência. Ocasionalmente, alguns eventos aleatórios
podem acontecer, como bancos de macrófitas que descem rios, levando consigo
diversos invertebrados, protistas e bactérias que podem chegar a novos locais.
Abaixo vão alguns exemplos curiosos de quanto algumas
espécies se especializaram para alcançar novos locais.
Besouros carabídeos
Esse primeiro exemplo mostra como as diferenças entre
características biológicas podem ser decisivas para aumentar as capacidades de
dispersão de diversos seres vivos. Alguns pesquisadores espanhóis estudaram a
distancia ocupada por várias espécies de besouros carabídeos da península
Ibérica. Eles analisaram vários dados. Mas um deles nos ajudaram a entender o
motivo de algumas espécies se dispersarem mais do que outras. Neste estudo,
dois tipos de besouros foram comparados.
Besouros de asas longas e besouros de asas curtas. Adivinha qual deles
se dispersavam mais? Acertou quem chutou nos besouros de asas longas. Segundo
os pesquisadores, o efeito do habitat é importante para explicar tal padrão. Locais
que proporcionam habitats mais estabilizados, são mais habitados por animais de
asas curtas, pois não precisam se deslocar para locais mais longínquos para
encontrar habitats ótimos. Já para os besouros de de asas longas, habitats que
sofrem com muitos distúrbios (como fogo ou inundações) são mais habitados por
animais que possuem alta capacidade dispersiva, pois conseguem procurar locais
mais adequados para sobrevivência, quando a região estiver sofrendo algum tipo
de distúrbio.

Tartarugas gigantes de Galápagos
Quando fala-se de Galápagos, já lembra-se desse conjunto de
ilhas mágicas que foi base de estudos para alcançar vários avanços na Biologia.
Esse arquipélago possui diversas espécies incomuns e muitas delas endêmicas
dali. Um grupo delas são às tartarugas gigantes de Galápagos. Atualmente é
encontrada somente uma espécie (Chelonoidis
nigra) que é dividida em diversas subespécies. Quando se observa essas
tartarugas, a questão dá origem ainda é uma incógnita. Essa dúvida paira até hoje. É
sabido de que elas derivam de um ancestral que era originário da América do
Sul. Mas como elas atravessaram mais de 1000 Km de oceano, para alcançar esses
arquipélagos? Alguns pesquisadores afirmam que elas podem ter sido trazidos por
humanos (principalmente piratas, que as usavam como alimento, pois aguentavam
grandes períodos sem se alimentar ou ingerir água). Mas atualmente a hipótese
mais aceita é a de que elas vieram boiando da América do Sul até Galápagos.
Isso mesmo! Mas como? Bom, a hipótese se sustenta que essas espécies apesar do
grande tamanho, conseguem boiar muito bem na água. Além disso elas possuem um
pescoço longo que facilita a sua respiração sobre a água. Outros dois fatores
que podem ter auxiliado elas, foi a alta capacidade em sobreviver longos
períodos sem se alimentar ou ingerir água e ainda a corrente marítima de
Humboldt, que passa pela costa da América do Sul e no Equador vira-se em
direção às ilhas. Com a chegada dos europeus a partir do século XVI, elas
sofreram muito com o consumo da sua carne e com a competição com espécies
introduzidas pelo homem. Atualmente
existem programas que focam na recolonização dessas tartarugas nas ilhas
do arquipélago.
Algas cosmopolitas
Muitas algas do mesmo gênero ou às vezes da mesma espécie,
são encontradas em várias partes do mundo. A pergunta é como essas espécies
microscópicas, conseguem se dispersar e alcançar locais tão distintos do globo?
Essas criaturas utilizam outros animais para alcançar novos locais. Aves que vão até locais alagados ou rios
(principal habitat de várias algas) para se alimentar, acabam ficando com algas
presas em suas penas ou pernas e com isso, quando se deslocam para outros
locais elas acabam levando as algas. Quando alcançam novos locais alagados,
essas algas começam a se desenvolver e alcançar populações grandes o bastante
para perpetuar a espécie naquele local. Com isso o ciclo recomeça, com uma nova
ave. Dessa forma tais espécies, mesmo sendo pequeninas, conseguem alcançar
diversos pontos do globo.
Aguapés dispersores
Quem já foi pescar conhece o Aguapé (Eichhornia crassipes),
ela é uma macrófita flutuante, nativa da América do Sul. Essa planta pode
alcançar um grande crescimento e formar grandes bancos. Muitas vezes esses
bancos podem se desprender dos locais onde estão estabilizados e seguirem o
fluxo de algum curso d’água. Nesse momento ela pode ser um agente dispersor
para sua própria espécie e para diversos organismos que estão habitando suas
folhas ou raízes. Quando esse banco chega a um novo local, poderá começar a se
estabelecer e manter uma população e ainda introduzirá diversas espécies de
microrganismos, vertebrados e até invertebrados que chegaram com elas a esse
novo local. O vídeo abaixo mostra um pouco disso. Apesar da velocidade da água
ser grande, os “caronistas” que conseguirem sobreviver a viagem, poderão se
desenvolver num novo local.
Plantas
Talvez esses organismos, são os que mais chamem atenção,
quando o assunto é dispersão. Pois, apesar de serem seres sésseis, ainda assim
conseguem dispersar sua prole para diversos locais. Existem vários exemplos,
algumas plantas, utilizam o vento como as sementes de Cedro (Cedrela fissilis) que possuem um formato
de sâmaras e quando são liberados por seus frutos do alto das copas, acabam
caindo de forma vagarosa. O mais curioso dessa dispersão é a forma que as
sementes “caiem”. O formato da semente e o material leve que ela é formado, dão
a combinação perfeita para ela cair “girando” em torno de seu próprio eixo.
Esse “giro” faz com que as sementes permaneçam mais tempo no ar e consigam
alcançar locais mais distante do que sua origem. Diversas árvores de grande
porte possuem essa estratégia de dispersão.
Ainda existem plantas que se dispersam utilizando animais
como vetores (zoocoria). Geralmente são plantas com frutos carnosos e que
possuem muita polpa. Os animais se alimentam desses frutos e às vezes ingerem
as sementes contidas nos frutos. Alguns morcegos se alimentam de árvores como o
Figo e vão a outras áreas e lá eles defecam, dispersando as sementes que foram
alimentadas. Essa é uma das dispersões mais conhecidas e utilizadas pelas
plantas.
Referências:
Gutiérrez, D; Menéndez, R.; Patterns in the distribution, abundance and body size of carabid beetles (Coleoptera; Caroboidea) in relation to dispersal ability. Journal of Biogeography. 1997. 24. 903-914.
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Lester, S.; Ruttenberg, B.; Gaines, S.; Kinlan B.; The relationship between dispersal ability and geographic range size. Ecology Letters, 2007 (10): 745-758.
Wilmé, L.; Waeber, P.; Ganzhorn, J.; Human translocation as an alternative hypothesis to explain the presence of giant tortoises on remote islands in the south-western Indian Ocean. Journal of Biogeography. 2017. 44, 1-7.